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'Past Lives': destino ou consequência de uma decisão?

  • Foto do escritor: Beatriz Nicacio
    Beatriz Nicacio
  • 2 de fev.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de abr.

Novo Amor - Anchor

O destino seria realmente a pré-definição do que estamos fadados a viver envolto de uma narrativa mística ou uma apenas uma sucessão de atos humanos e escolhas que fazemos?


Ao entrar no mundo de Past Lives, Celine Song nos mostra uma realidade autêntica e não tão fantasiosa do que conhecemos sobre "destino", levando os espectadores a acompanharem uma narrativa entre o passado e futuro de um relacionamento afetivo entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo).

By IMDb
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No início do filme, somos conduzidos à infância de Nora e Sung, quando ambos compartilham esse período da juventude, estando presentes na vida um do outro. Aos 12 anos, Nora e sua família de artistas se mudam para Toronto, em busca de um futuro melhor, deixando para trás suas vidas anteriores na Coreia do Sul. Ao longo de várias cenas na primeira parte da narrativa, Song faz uso da cinematografia para sugerir que, desde o início, os destinos de Nora e Sung seguem direções divergentes, ou até mesmo sugerem uma alteração no espaço-tempo, refletindo a evolução de cada personagem. Nora é frequentemente vista subindo escadas, enquanto Sung opta por um caminho linear. Sung sempre teve o desejo de conhecer a China, enquanto Nora sonhava em explorar Nova York.


Nora e Sung se encontram e se distanciam a cada doze anos, em uma trama na qual Song estabelece uma conexão com a lenda coreana "In-Yun", popularmente conhecida na mitologia japonesa como "Akai Ito" ou "o fio vermelho". Simbolizando uma ligação de vidas passadas, que nem sempre está destinada a se concretizar nas existências subsequentes. Se acreditarmos que nossas almas atravessam diferentes experiências ao longo de várias encarnações, isso pode nos levar a repensar o presente de uma maneira mais equilibrada e talvez repensar as atitudes de nossos atos.


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Após uma breve pausa na juventude adulta de Nora e Sung, somos levados para uma cena abrupta em que Nora se sente deslocada em sua relação com Sung e pede que ambos se distanciem por algum tempo, encerrando, de forma definitiva, os caminhos que haviam percorrido juntos. Ao longo da narrativa, já na fase dos 30 anos, Nora e Sung vivem vidas que contrastam nitidamente com as que tinham no início – família, relacionamentos, carreira e sentimentos, nada permanece como antes. No entanto, 24 anos depois, eles se reencontram. A reflexão provocada pelo filme, de maneira nostálgica, conduz o espectador a uma introspecção: como teria sido minha vida se eu tivesse tomado decisões diferentes?


Past Lives transmite os nossos "e se" de maneira profundamente sentimental e realista, narrando uma história entre tantas que poderiam se desenrolar em nossa realidade e diante de nossos olhos. Enquanto nos lançamos apressadamente em direção ao futuro, muitas vezes não percebemos que o verdadeiro "destino" mora nas experiências que vivemos no presente e nos cabe recordar o nosso passado e extrair dele tudo o que ainda possa contribuir para a nossa vida, seja nas pessoas e amores que nele habitaram, ou nas memórias que nos restaram.


Durante o clímax do filme, o esposo de Nora, John Magaro, expressa seu sentimento de não pertencimento ao destino de sua esposa. Apesar da vida que construíram juntos, John acredita que o encontro entre eles foi meramente uma coincidência e sugere que sua presença na vida de Nora não detém a mesma significância que a de Sung. Em um dos momentos mais marcantes do diálogo, ele desabafa: "Você sonha em um idioma que eu não entendo. Parece que há um lugar inteiro dentro de você que eu não consigo acessar". Afinal, a aparição de John na vida de Nora poderia ser considerado o "destino" que sua trajetória tomou? Ou tal acontecimento decorre, de fato, de uma omissão, ao não ter permanecido ao lado de Sung desde o princípio?


By New York Times
By New York Times

Durante os últimos minutos do filme, ao se despedir de Nora para voltar para Seoul, Sung faz uma última pergunta, que nos remete o possível fim de ciclo com Nora: "E se esta também for uma vida passada, e nós já formos algo além um para o outro na nossa próxima vida? Quem acha que somos?". Sob a ótica de Sung e sua trajetória, Song nos revela uma evidente desilusão amorosa, retratando um amor veemente e tragicamente não correspondido, marcado pelas responsabilidades e caminhos opostos que a vida tomou. Mesmo assim, persiste uma tênue esperança, embora o que restasse fosse, neste contexto, apenas uma passagem de algo que nunca se concretizou. Past Lives também provoca uma reflexão sobre o ato de esperar pelo outro. Esperar aquele com quem sentimos nossas almas entrelaçadas, aguardar sua atitude, anseiar por seu "sim", independente de qualquer circunstância.


É natural da jornada humana transitarmos por diversos lugares, experiências, situações e trajetórias alheias ao longo de nossa vida. Contudo, surge a dúvida: quando conseguimos discernir o que nos pertence e o que não nos pertence? O fato é que, de maneira indiscutível, aquilo que deve ser nosso inevitavelmente nos encontrará, e tudo o que emanamos e escolhemos abraçar permanecerá conosco até o fim – seja um amor, uma amizade ou até mesmo um livro que, em algum momento, se revelará essencial para nossa existência.


“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.” ― Carla Madeira, Tudo é rio.

O que, afinal, define o que chamamos de "destino"? Seriam as coincidências, a identificação com outras pessoas, ou talvez os meios comuns que compartilhamos? Quantas inseguranças, medos e apegos prejudiciais nos impedem de assumir o controle de nossas vidas, apelando carinhosamente para o termo "destino", a fim de mascarar as consequências de atitudes irresponsáveis e diminuir a dor emocional que, com o tempo, carregamos: o arrependimento. Quando deixamos de amar alguém devido a medos e incertezas não fundamentadas, ou quando nos abstemos de demonstrar ações por bloqueios irreais que nossa mente, muitas vezes, nos impõe, estamos, na verdade, negando o nosso próprio destino, fugindo daquilo que nos pertence. De todo modo, o risco nos acompanha ao longo de nossa origem; é por meio dele que conseguimos alcançar nossos desejos e sonhos, mesmo que isso nos exija tentar outra vez na vida seguinte.





Por Be.



 
 
 

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